quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Favela: eu sou daqui! no RJTV sábado 06/12

RJTV 1ª Edição > 06/12/2008 > Reportagem

Jovens de favela lançam campanha para combater preconceito
Na Coluna Bate-Papo de hoje, Edney Silvestre conversa com uma das idealizadoras dessa iniciativa.

Quem mora em favela ou comunidade pobre sabe bem do preconceito que tem que enfrentar na hora em que contam onde mora. Alguns jovens dessas comunidade e favelas talvez tenham encontrado uma forma de combater esse preconceito. Sobre isso, conversamos no Bate-Papo com Verônica Moura

Edney Silvestre: Quantos você tem?

Verônica Moura: 24 anos.

Você é formada como técnica de administração, mas não consegue emprego? Por quê?

Porque eu moro na Favela de Santa Marta.

Isso acontece muito frequentemente com quem mora em favela?

A pessoa não consegue emprego, tem muito preconceito com morador de favela e as pessoas têm que mentir seu endereço para conseguir um emprego.

E você se recusa a mentir?

Eu me recuso.

Agora, está no ar uma campanha criada por jovens de favelas e comunidades pobres do Rio de Janeiro para tentar alterar essa imagem.

Na verdade a campanha é “Favela eu sou daqui”. São vários jovens, de várias favelas do Rio de Janeiro. A campanha é para mostrar para a classe média, a classe alta, que somos jovens como outros jovens do Rio de Janeiro, temos os mesmo direitos, queremos algumas coisas parecidas, emprego, saúde. Existem os direitos, mas não é a mesma coisa para os jovens moradores de favela. Mas por quê? Quantas vezes a gente vai ao supermercado e o segurança fica atrás da gente.

Isso acontece com você com muita freqüência?

Direto. Para ir no supermercado eu tenho que me arrumar. Se eu for de roupa simples ou com pessoas negras do meu lado é sempre. Não posso pegar um táxi, eu não tenho esse privilégio, de pegar o táxi e saltar em frente à minha comunidade.

E você mora lá em cima do Santa Marta. E agora, grávida de 7 meses, lá vai você todo dia subindo a pé?

Todo dia. Apesar do que lá tem o plano inclinado, o bondinho, mas mesmo assim é alto e eu sofro com esse preconceito. Se eu falar que sou moradora de favela muda totalmente os olhares, a postura da pessoa, como a pessoa fala com você, muda tudo.

Você teve outros empregos?

Sim, eu trabalhei num restaurante, de garçonete, e trabalhei em creche.

Você achou que era pouco, que você pode mais?

Sim, eu quis sair, eu quero estudar porque era uma coisa melhor, eu queria me formar, só que estou tentando. Não consegui entrar numa faculdade, mas eu fiz o técnico.

Os outros jovens envolvidos nessa campanha são de que comunidades e favelas?

Tem do Complexo da Maré, do Alemão, da Rocinha, Santa Marta e Bangu. Essa é a visão da nossa campanha. Que a favela faz parte do Rio de Janeiro. É a sociedade. Não essa separação de favela e asfalto. E tem que quebrar isso. É uma campanha aberta para as pessoas refletirem, verem seus conceitos, seus preconceitos.

Vou terminar pedindo para você falar de um jovem que vem aí, o seu filho Gabriel. Daqui a pouco vai nascer e vai ter que enfrentar esse mundo também.

Eu quero muito que meu filho não seja mais uma criança, que as pessoas falem: ‘esse daqui vai ser outro bandidinho’. Ele vai nascer na favela, vai morar lá e eu quero dar o melhor pra ele, mostrar, conversar e falar que ele tem os mesmos direitos e total liberdade, o direito de ir e vir. E que ele também possa ser respeitado